Relógio Digital

Criada no dia 30 de Janeiro de 2005

Academia Goianiense de Letras

Gismair Martins

Gismair Martins

A trajetória espírita de Divaldo Franco pelo mundo

A REVER – REVISTA DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO da PUC-SP acabou de publicar um artigo acadêmico de minha autoria sobre a trajetória espírita de Divaldo Franco pelo mundo. Gostaria que, se possível, você postasse no site da Academia Espírita e da Goianiense, por gentileza. A revista é uma das mais importantes do Brasil na área; foi um grande presente da espiritualidade para nós a sua publicação. Grato desde já sua atenção, Gismair. Segue o link: Arquivo em PDF

Gismair Martins

DE RIZOMA, IMAGINÁRIO E LINDA HUTCHEON NA INTERTEXTUALIDADE DE “UM DIA EM JERUSALÉM”, DE EMÍDIO SILVA FALCÃO BRASILEIRO

Gismair Martins Teixeira – Doutor (SEDUCE-GO)e-mail: gismairteixeira@gmail.com RESUMO: Gilles Deleuze e Félix Guattari, Gilbert Durand, Linda Hutcheon eJulia Kristeva são autores que têm contribuído de forma significativa nouniverso das pesquisas literárias nas últimas décadas com seus aportesteóricos. Formuladores de conceitos como rizoma, imaginário, parodizaçãoe intertextualidade, respectivamente, suas formulações fomentam odiálogo entre obras artísticas e literárias de contextos e procedênciasdiversas. Neste trabalho, buscamos estabelecer uma correspondênciaentre a obra do escritor baiano radicado em Goiás, Emídio Silva FalcãoBrasileiro, intitulada Um dia em Jerusalém, publicada em primeira ediçãono ano de 1988, e a obra O profeta, do escritor libanês, Gibran KhalilGibran. Buscaremos estabelecer o locus discursivo de onde fala o escritorbrasileiro, bem como a relação de sua produção em recorte para esteestudo com o clássico trabalho gibraniano da literatura sapiencial. Paratanto, buscaremos assentar as bases relacionais desta proposta no universoepistêmico dos teórios mencionados de início. Palavras-chave: Rizoma; Imaginário; Emídio-Brasileiro. INTRODUÇÃO Neste estudo apresentaremos uma breve abordagem comparativaentre as obras referenciadas no resumo, assumindo como elementosepistêmicos norteadores os conceitos nele mencionados.Faremos, de início, um recorte mais incisivo na formulaçãodeleuzeguatarriana acerca do rizoma, reservando aos demais conceitosreferências mais breves e contextualizadas no dialogismo entre asproduções em análise. Buscaremos desenvolver uma abordagem queponha em evidência as homologias presentes entre os conceitos utilizadospara correlacionar ambos os trabalhos literários do gênero sapiencial. Rizoma, episteme literária e comparatismo No primeiro dos cinco volumes brasileiros de Mil platôs: capitalismo eesquizofrenia, Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995, p. 14) conceituam edefinem o rizoma como metáfora de cunho epistemológico elaborada apartir do jogo relacional extraído à natureza. A batata, a grama, a ervadaninha são rizomas (DELEUZE, GUATTARI, 1995, p. 14): “Até animais o são,sob sua forma matilha; ratos são rizomas.”A visualização de um gramado permite uma apreensão imagéticarelativa do conceito epistêmico de rizoma. Cada tufo de grama seconecta a outro por radículas subterrâneas. De maneira semelhante, nasbelíssimas vitórias-régias. Apesar da conexão entre as partes, cada umadelas possui a sua independência. Conforme os autores: “[o rizoma] põeem jogo regimes de signos muito diferentes […] (DELEUZE, GUATTARI, 1995,p.31).”Deleuze e Guattari (1995) apresentam, ainda, seis princípioscomponentes do conceito de rizoma, funcionando este como umsubstituto à metáfora arborescente de que está impregnada a culturaocidental, conforme a arborescência linguística chomskyana (1995, p. 14).O rizoma, no entanto, representaria a momentânea territorialização de umdado objeto e sua multiplicidade interacional em constante fluxo no vir-aser. É um sistema de que se extrai “o único da multiplicidade a serconstituída (DELEUZE, GUATTARI, 1995, p. 13).”Neste contexto, pois, a autonomia sígnica de qualquer objeto, bemcomo a sua correlação a outras matérias, poderá caracterizá-lo como umrizoma no contexto mais amplo que os teóricos franceses desenvolvem emseu trabalho. Funcionalmente, neste estudo, cada uma das duas peçasliterárias aqui apresentadas será assumida como um rizoma independenteque, todavia, conecta-se a sua congênere por epistemes literárias eculturais como a intertextualidade, o parodismo hutcheniano e oimaginário durandiano.O profeta é uma das peças literárias mais conhecidas do escritorlibanês Gibran Khalil Gibran. A estrutura desse livro sapiencial é marcadapelo diálogo que se estabelece a partir de lições que são ministradas porAl-Mustafa, o sábio, na imaginária cidade de Orphalese. Ele aguarda achegada de um navio que o levará a sua terra, pois ali se encontrava,apesar dos 12 anos de permanência, de passagem.Numa abordagem exegética, essa informação pode ser pensadacomo uma alegoria para a vida. O conteúdo simbólico e de sabedoria deO profeta sugere que Orphalese bem pode representar a existênciahumana e o mundo que a enforma, numa perspectiva lato sensu.Simbolicamente, às portas da morte, ou na iminência da volta para o larespiritual, Al-Mustafa apresenta a seus visitantes, que o cercam nadespedida, palavras sábias, carregadas de uma poesia mística singular.São 28 discursos sobre temas fundamentais da existência. O profetaé interrogado por interlocutores diversos sobre temáticas como o amor, omatrimônio, os filhos, a dádiva, o comer e o beber, o trabalho, dentreoutros. Sobre a morte, penúltimo tema a ser desenvolvido, Al-Mustafa dirá,em resposta a Almitra: Quereis conhecer o segredo da morte.Mas como podereis descobri-lo se não o procurardes nocoração da vida?A coruja, cujos olhos, feitos para a noite, são velados aodia, não pode descortinar o mistério da luz.Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abriamplamente as portas de vosso coração ao como davida.Pois a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como orio e o mar são uma e a mesma coisa.Na profundeza de vossas esperanças e aspirações dormevosso silencioso conhecimento do além […] (GIBRAN,1980, p.54; grifo nosso). A palavra em destaque pode servir de referencial para remeter oleitor a um rizoma específico, aqui entendido como um recorte culturalparticular: o espiritismo kardequiano, sistema de religiosidade francês doséculo XIX que se estabeleceu no Brasil de forma peculiar, rizomática. Emnosso país, a palavra destacada evoca o imaginário espírita de formaunívoca.Em As estruturas antropológicas do imaginário, o pesquisadorfrancês, Gilbert Durand (2012, p. 18), define o imaginário como sendo “oconjunto das relações de imagens que constituem o capital pensado dohomo-sapiens”. Infere-se, pois, dessas palavras, que cada rizoma particularpode e deve ter o seu imaginário, invariavelmente. Além-túmulo, vida apósa morte, imortalidade da alma, reencarnação constituem conjuntosimagéticos do capital espiritista que surge no cenário cultural humano em 18 de abril de 1857, com a publicação de O livro dos espíritos por AllanKardec (1995), pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail.Na despedida de Al-Mustafa, Almitra, a vidente, verbaliza osentimento de todos os presentes à partida do profeta, que apresenta emsuas palavras elementos novos para a leitura alegórica de que realmente apartida dizia respeito à morte. Neste momento crucial, o sábio tececonsiderações remissivas ao imaginário espírita, em poesia mística deperegrina beleza que estrutura em metáforas tomadas de empréstimo ànatureza.Conclui Al-Mustafa sua despedida com estas palavras: Estou pronto.O rio já atingiu o mar, e mais uma vez a grande mãeaperta seu filho contra o peito.[…] Mais um curto instante, e minha nostalgia começaráa recolher argila e espuma para um novo corpo.Mais um curto instante, mais um descanso rápido sobre ovento, e outra mulher me conceberá (GIBRAN, 1980, p.59). O autor sugere de forma nítida neste tópico o princípio dapalingênese grega, ou a moderna reencarnação. Aqui, porém, é possívelvislumbrar uma possível

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