A História da Academia Goianiense de Letras: um sonho que virou legado

 

Em uma tarde de janeiro de 2005, nascia oficialmente a Academia Goianiense de Letras (AGnL), com o firme propósito de dar dignidade, visibilidade e representatividade aos escritores da capital de Goiás — Goiânia. Em 1994, Emídio Brasileiro, juntamente com sua esposa, a Dra. Marislei Espíndula Brasileiro, levaram Goiânia ao destaque nacional e internacional, quando divulgaram a maior pesquisa sobre comportamento sexual já realizada no Brasil, divulgada pelo programa Fantástico, Jornal Nacional, Jornal Hoje, SBT, Record, Band, com repercussão internacional —no jornal The New York Times. O desejo de tornar Goiânia um centro cultural de renomados escritores ainda persistia.

A chama reacendeu quando o escritor, professor e doutor em Direito, Emidio Silva Falcão Brasileiro, já reconhecido por sua trajetória acadêmica e literária, decidiu retribuir a homenagem recebida com o título de Cidadão Goiano em 2004. Durante suas pesquisas, descobriu que, trinta anos antes, outros jovens sonharam em fundar uma academia de letras na capital. No entanto, a proposta liderada por Mário Martins não chegou a se concretizar e os idealizadores seguiram caminhos distintos.

Movido pela gratidão e pela urgência de criar um espaço para proteger e valorizar a literatura produzida em Goiás, Emidio retomou o projeto com vigor. Ao seu lado, estavam nomes como a Dra. Marislei Brasileiro e seu aluno José Donizete Fraga (que também fundaria a Academia Aparecidense de Letras em 2002), os escritores Cláudio de Castro, Laudelina Inácio, Bariani Ortêncio, Aidenor Aires, Geraldo Coelho Vaz, Maria das Graças Fleury, Alziro Zarur, Kéber Oliveira, Jávier Godinho, Luiz Carlos Bordoni, Luiz Pimentel entre outros.

Com o estatuto inspirado na tradicional Academia Francesa, definiu-se que os membros deveriam ter obra publicada e residência em Goiânia por, no mínimo, cinco anos. Foram criadas 40 cadeiras acadêmicas, e cada novo integrante escolheu um patrono — personalidade marcante para a cidade —, como Pedro Ludovico Teixeira, elaborando um texto em sua homenagem.

Mas a AGnL nasceu com um diferencial: ser aberta à comunidade. Pessoas com produção intelectual, ainda que residentes em outras cidades, poderiam se tornar sócios correspondentes, como ocorreu com a senhora Lili Marinho, viúva de Roberto Marinho, convidada a integrar a Academia após o lançamento de seu livro autobiográfico.

O papel social e simbólico da entidade foi essencial em um país que ainda não regulamenta a profissão de escritor. Muitos autores, mesmo dedicando horas silenciosas ao ofício de escrever — às vezes em detrimento do convívio familiar —, permanecem invisíveis à sociedade. A AGnL, portanto, nasceu também como ato de justiça histórica e cultural.

Em seus primeiros anos, as reuniões aconteceram no salão de festas do Edifício Capitólio, no Setor Bueno — residência do presidente fundador. Em seguida, a presidência passou ao escritor Osmar Pires, e, posteriormente, à professora e escritora Maria Luíza Ribeiro, que buscou junto aos governantes uma sede, porém permanecendo em sala alugada, custeada com ajuda dos acadêmicos e fomentou projetos de incentivo à publicação de livros.

Com o tempo, foi necessária a atualização do estatuto, estabelecendo que acadêmicos que ficassem dois anos sem participação ou justificativa seriam substituídos, fortalecendo o compromisso e a renovação do quadro.

Em 2017, Aidenor Aires assumiu a presidência, e a AGnL passou a funcionar em sala alugada na Avenida Goiás. Durante sua gestão, além de desenvolver com os acadêmicos importante projeto como cursos  de letramento para catadores de materiais recicláveis, incentivando-os a escrever crônicas, poemas e contos; a publicação da revista da AGnL, dentre outros. Graças à gentileza da Academia Goiana de Letras e ao apoio de Ubirajara Galli, Geraldo Coelho Vaz e Leda Selma, a AGnL passou a ocupar a Casa Altamiro de Moura Pacheco.

Em 2024, Marislei Brasileiro , então vice-presidente, assumiu a presidência da AGnL, pois Aidenor Aires foi eleito Presidente da Academia Goiana de Letras. Em seguida, em 2025, Marislei Brasileiro foi eleita presidente, juntamente com nova diretoria. Com um olhar atento às transformações sociais, promoveu a aproximação entre a literatura e públicos historicamente excluídos. Foram implantados projetos como:

  • Oficinas de escrita terapêutica para estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA);

  • Projeto “Patronos”, promovendo mensalmente biografias dos homenageados de cada cadeira;

  • Projeto “Trajetória, voz e memória”, promovendo a valorização dos escritores e o resgate de memórias da própria AGnL.

  • Participações ativas em saraus, lançamentos de livros, cerimônias de posse e eventos literários em parceria com outras academias.

A AGnL se sustenta com apoio de editais das Secretarias Estadual e Municipal de Cultura, recursos da Lei Aldir Blanc, parcerias como a do Sicoob, doações do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (por meio de seu acadêmico Dr. Luiz Claudio Veiga Braga – que doou um automóvel para a AGnL desenvolver seus projetos em regiões periféricas de Goiânia), e, acima de tudo, pela colaboração ativa e apaixonada de seus acadêmicos.

Com a entrada de novos acadêmicos, tais como Leandro Rodrigues Almeida, Elizabeth Abreu Caldeira Brito, Josefa Martins Lopes Sampaio, Luiz Otávio Soares, Maria Avelina de Carvalho, Giovani Ribeiro Alves, Arthur Magno Almeida da Paz, Mauri Fernandes de Castro, Roselene Cardoso Araujo, Nilson Gomes Jaime, Sônia Ferreira, Mauro Pereira de Souza e Zilmar Mendes Ferreira Garcia, a AGnL se fortalece com entidade cultural essencial em Goiânia.

Hoje, a AGnL é mais do que uma instituição cultural: é um movimento vivo, um elo entre passado, presente e futuro da literatura goianiense. Ela mantém viva a memória de seus patronos e dos acadêmicos falecidos, honra a trajetória de seus fundadores e segue sendo um espaço fértil para a produção intelectual, o intercâmbio de ideias e o florescimento da cultura.

A Academia Goianiense de Letras agradece a cada membro — titular, correspondente e colaborador — por manter acesa a chama da palavra escrita em nosso estado.

Dra. Marislei Brasileiro – Presidente da AGnL

Conte-nos como foi a sua história com a Academia Goianiense de Letras. Envie seu texto para  <academiagynletras@gmail.com>

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